terça-feira, 24 de março de 2009

Reduz ou não o IPI?

No último sábado, estava assistindo ao Jornal Nacional, da Rede Globo, e vi o anúncio promocional da Volkswagen com o compacto Gol, que pode ser adquirido por R$ 23.690, na versão G4 básica e com carroceria de duas portas. A oferta faz parte do fim do período das promoções de veículos com redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que está valendo para modelos com motor de um a dois litros até a próxima segunda-feira (31), conforme prevê a determinação anunciada pelo governo federal no pacote anticrise, no fim de 2008.

Então, isso quer dizer que falta menos de uma semana para o setor automotivo voltar a embutir o imposto no preço final do veículo, deixando de repassar, integralmente, o desconto para o consumidor?

Esta decisão, na verdade, está na caneta do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, ex-metalúrgico e que teve a sua trajetória sindical e política nas montadoras de veículos, no ABC paulista. No máximo, até a próxima sexta-feira ou no início da semana que vem será anunciada a prorrogação ou não do período da redução da alíquota do IPI para carros nacionais.

Para mim, a indústria automotiva brasileira ganhou um presentão de Papai Noel em dezembro do ano passado. Imagine se outros setores da economia, como o da construção civil, recebessem tratamento igual ou, pelo menos, equiparado ao que foi dado às montadoras de veículos? Ainda hoje, os reflexos da crise financeira mundial são fortes em vários setores da economia brasileira e alguns empreendimentos imobiliários, por exemplo, deixaram de sair do papel ou foram adiados e estão sem prazo para serem reiniciados.

Em novembro, a situação era preocupante. Com a redução da oferta de financiamento por parte dos bancos e financeiras, quem tinha condições de entrar em um financiamento de médio ou longo prazo preferiu aguardar a chuva passar, adiando a possível compra e gerando uma outra crise, a da desconfiança.

No início deste ano, o consumidor voltou a comprar, estimulado pelo bom incentivo dado pelo governo, que zerou a alíquota do IPI para modelos com motor 1.0, por exemplo. A maozinha aí segurou o volante da trajetória crescente das montadoras de veículos, que continuaram as comemorações das boas vendas em todo o Brasil.

Até o momento, nenhum fabricante deixou de cumprir o seu calendário de lançamentos. Neste mês de março, foram duas ou três apresentações de novos modelos ou de veículos reestilizados por semana. E a estimativa é a de que sejam lançados entre 50 e 60 carros até o fim de 2009.

No primeiro bimestre deste ano, o setor automotivo registrou 639.648 unidades, contra as 715.294 no mesmo período de 2008. Independentemente da queda de vendas, o período não é dos piores, ao ser comparado com o retrocesso de mercados emergentes como o da Rússia, que teve uma retração de vendas de quase 50%.

Nos bastidores, o IPI reduzido já está quase sacramentado. O governo, segundo representantes de fabricantes instalados por aqui, somente não antecipou o anúncio para não prejudicar as vendas de veículos. No seu site, a Fenabrave afirma que o governo não confirma nem descarta a intenção de estender a redução do IPI após 31 de março.

Caso haja a prorrogação do IPI, a renuncia fiscal deve ser de R$ 1,35 trilhão. Os cofres oficiais, no entanto, deixam de arrecadar mas, por outro lado, o poder público continua garantindo o aquecimento das vendas de veículos e, como consequência, mantém os postos de trabalho. De quebra, não há demissões no setor automotivo e nem a imagem do governo fica manchada em um período pré-eleitoral.