domingo, 15 de março de 2009

Crescer ou encolher?

Desde setembro de 2008, a palavra crise já deve ter sido citada centenas de vezes no noticiário mundial. Ao longo deste período, observei o furacão que abalou praticamente todos os setores da economia mundial, em especial o automotivo.
Inicialmente, nem o mais pessimista dos analistas financeiros poderia apostar que gigantes da indústria de veículos – General Motors, Chrysler e a Ford – estariam com as finanças tão debilitadas. Sabe-se, agora, que o furacão está servindo como um divisor de águas.
No Brasil, percebi que a ficha da crise ainda não tinha caído para alguns gerentes de vendas e diretores de montadoras, durante o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, em outubro do ano passado.
Em uma conversa bem objetiva, questionei-os sobre como as empresas iriam enfrentar uma possível recessão na economia mundial e a iminente queda de consumo no País. Na época, eles acreditavam que a economia brasileira estava tão boa – por sinal, a indústria automotiva registrou recorde em cima de recorde nos últimos quatro anos – que a crise seria passageira e não atingiria, em hipótese alguma, a indústria nacional. Ledo engano! A crise respingou em todos os continentes e, por aqui, atingiu fortemente as vendas de carros novos.
O discurso dos presidentes e representantes das montadoras instaladas no Brasil mudou da água para o vinho. De otimista com o cenário financeiro nacional, passou-se a incluir uma série de justificativas e argumentos defensivos, apontando que, no momento pós-crise, todos deveriam se preocupar principalmente com a retração das vendas de veículos.
A partir daí, começou o drama da indústria automotiva nacional. O governo fez a sua parte e baixou a alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros zero com motor até 2.0. Depois de anos de crescimento, chegou a hora de crescer ou de encolher neste momento de crise? O tempo ainda é de férias coletivas, restrição de crédito para financiamento, corte de investimentos, balanços negativos, prejuízos, demissões e até de redução de salários para os trabalhadores.
O Salão de Detroit, um dos mais tradicionais do mundo, foi um fiasco. Esvaziado pela ausência de grandes fabricantes, causou uma impressão de que a situação é bem pior. Na semana passada, por exemplo, outras notícias só fizeram reforçar que o furacão foi realmente devastador. O Salão de Barcelona, que seria realizado no mês de maio, foi cancelado por falta de quorum. O de Buenos Aires, Londres e o de Tóquio podem também seguir o mesmo caminho.
Um dia desses ouvi um analista financeiro afirmar que é melhor aproveitar os espaços da crise do que deixar-se abalar totalmente com a situação. Por isso, quem não quer ser engolido pela crise deve traçar planos ousados. No mínimo, oferecer preços mais justos e diminuir a ganância da fome capitalista pelo lucro fácil. Roberto escreve às terças